O Livro dos Espíritos
por ALLAN KARDEC – tradução de José Herculano Pires
II – Influência Oculta dos Espíritos Sobre os Nossos Pensamentos e as Nossas Ações
459. Os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações?
— Nesse sentido a sua influência é maior do que supondes, porque muito frequentemente são eles que vos dirigem.
460. Temos pensamentos próprios e outros que nos são sugeridos?
— Vossa alma é um Espírito que pensa; não ignorais que muitos pensamentos vos ocorrem, a um só tempo, sobre o mesmo assunto, e freqüentemente bastante contraditórios. Pois bem, nesse conjunto há sempre os vossos e os nossos, e é isso o que vos deixa na incerteza, porque tendes em vós duas ideias que se combatem.
461. Como distinguir os nossos próprios pensamentos dos que nos são sugeridos?
— Quando um pensamento vos é sugerido, é como uma voz que vos fala. Os pensamentos próprios são, em geral, os que vos ocorrem no primeiro impulso.
De resto, não há grande interesse para vós nessa distinção e é freqüentemente útil não o saberdes: o homem age mais livremente; se decidir pelo bem, o fará de melhor vontade; se tomar o mau caminho, sua responsabilidade será maior.
462. Os homens de inteligência e de gênio tiram sempre suas ideias de si mesmos?
— Algumas vezes as idéias surgem de seu próprio Espírito, mas freqüentemente lhes são sugeridas por outros Espíritos, que os julgam capazes de as compreender e dignos de as transmitir. Quando eles não as encontram em si mesmos, apelam para a inspiração; é uma evocação que fazem, sem o suspeitar.
Comentário de Kardec: Se fosse útil que pudéssemos distinguir os nossos próprios pensamentos daqueles que nos são sugeridos. Deus nos teria dado o meio de fazê-lo, como nos deu o de distinguir o dia e a noite. Quando uma coisa permanece vaga, é assim que deve ser para o nosso bem.
463. Diz-se algumas vezes que o primeiro impulso é sempre bom; isto é exato?
— Pode ser bom ou mau, segundo a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom para aquele que ouve as boas inspirações.
464 Como distinguir se um pensamento sugerido vem de um bom ou de um mau Espírito?
— Estudai a coisa: os bons Espíritos não aconselham senão o bem; cabe a vós distinguir.
465. Com que fim os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?
— Para vos fazer sofrer com eles.
465 – a ) Isso lhes diminui o sofrimento?
— Não, mas eles o fazem por inveja dos seres mais felizes.
465 – b) Que espécie de sofrimentos querem fazer-nos provar?
— Os que decorrem de pertencer a uma ordem inferior e estar distante de Deus
466. Por que permite Deus que os espíritos nos incitem ao mal?
— Os espíritos imperfeitos são os instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens no bem. Tu, sendo Espírito, deves progredir na ciência do infinito, e é por isso que passas pelas provas do mal para chegar ao bem. Nossa missão é a de colocar-te no bom caminho, e quando más influências agem sobre ti, és tu que as chamas, , pelo desejo do mal, porque os Espíritos inferiores vêm em teu auxílio no mal, quando tens a vontade de o cometer; eles não podem ajudar-te no mal, senão quando tu desejas o mal. Se pés inclinado ao assassínio, pois bem, terás uma nuvem de espíritos que entreterão esse pensamento em ti; mas também terás outros que tratarão de influenciar-te para o bem, o que faz que se reequilibre a balança e te deixe senhor de ti.
467. Pode o homem se afastar da influência dos Espíritos que o incitam ao mal?
— Sim, porque eles só se ligam aos que os solicitam por seus desejos ou os atraem por seus pensamentos.
468. Os Espíritos cuja influência é repelida pela vontade do homem renunciam às suas tentativas?
— Que queres que eles façam? Quando nada têm afazer, abandonam o campo. Não obstante, espreitam o momento favorável, como o gato espreita o rato.
469. Por que meio se pode neutralizar a influência dos maus Espíritos?
— Fazendo o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a influência dos Espíritos inferiores e destruís o império que desejam ter sobre vós. Guardai-vos de escutar as sugestões dos Espíritos que suscitem em vós os maus pensamentos, que insuflam a discórdia e excitam em vós todas as más paixões. Desconfiai sobretudo dos que exaltam o vosso orgulho, porque eles vos atacam na vossa fraqueza. Eis porque Jesus vos faz dizer na oração dominical: “Senhor, não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal!”.
470. Os Espíritos que procuram induzir-nos ao mal, e que, assim, põem à prova a nossa firmeza no bem, receberam a missão de o fazer, e, se é uma missão que eles cumprem, terão responsabilidade nisso?
Nenhum Espírito recebe a missão de fazer o mal; quando ele o faz, é pela sua própria vontade, e conseqüentemente terá de sofrer as consequências(1). Deus pode deixá-lo fazer para vos provar, mas jamais o ordena e cabe a vós repeli-lo.
471. Quando experimentamos um sentimento de angústia, de ansiedade indefinível ou de satisfação interior sem causa conhecida, isso decorre de uma disposição física?
— E quase sempre um efeito das comunicações que, sem o saber, tivestes com os Espíritos, ou das relações que tivestes com eles durante o sono.
472. Os Espíritos que desejam incitar-nos ao mal limitam-se a aproveitar as circunstâncias em que nos encontramos ou podem criar essas circunstâncias?
— Eles aproveitam a circunstância, mas freqüentemente a provocam, empurrando-vos sem o perceberdes para o objeto da vossa ambição. Assim, por exemplo, um homem encontra no seu caminho uma certa quantia: não acrediteis que foram os Espíritos que puseram o dinheiro ali, mas eles podem dar ao homem o pensamento de se dirigir naquela direção, e então lhe sugerem apoderar-se dele, enquanto outros lhes sugerem devolver o dinheiro ao dono. Acontece o mesmo em todas as outras tentações.
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