Conceito – Múltiplas, através dos tempos, hão sido as conceituações do
amor. Variando desde as exaltações grandiloquentes aos excelsos ideais da
Humanidade, tem descido aos mais vis estágios da sensualidade desgovernada e
criminosa.
Inspirando guerras de religião, como devotamento a Deus, ou levantando Nações
contra agressores infelizes, sua mensagem tem transitado das explosões bárbaras
às culminâncias da santificação.
Para uns significa o alvo legítimo das nobres emoções do sentimento elevado;
para outros é impulso grotesco da carne, em conúbio com a ambição desatrelada e
a posse insaciada.
Empédocles, por exemplo, motivado pela vitalidade poderosa do amor, definiu-o
como sendo a “força que preside à ordem no mundo”, incidindo, sem dúvida, no
conceito de que a Divindade é amor, enquanto a Criação resulta de um ato de
amor. Já Heráclito, desapercebido da transcendência do amor, informava que o
amor tem como estímulo os contrastes, sem mais significativas conseqüências.
Sócrates, na sua doutrina Maiêutica, distinguia-o pela feição divina – aquela
que reúne todos e tudo – e pela expressão vulgar – como corrupção, aquela que
abastarda os homens e os vence inexoravelmente.
A doutrina hedonista, de Epicuro, não conseguiu situá-lo além das exigências
de natureza fisiológica e sensual, animalizando-o apenas.
Zenão tomou-o pelo ideal de beleza, que engendra a força estóica da
libertação dos sentidos mais grosseiros, elevando o ser.
Plutarco descobriu-lhe as exteriorizações em forma de paixão arrastadora como
de fervor enobrecido.
Os modernos pensadores da linhas utilitaristas, os sensualistas e
existencialistas reduzem-no ao apetite sexual, desconcertando o equilíbrio dos
centros genésicos, e, estimulados pela idéia da libido freudiana, não fazem
honesta distinção entre o fator eminentemente reprodutor no uso do sexo e a
perversão do abuso, no prazer anestesiante das imposições grandulares.
Os santos, os heróis da abnegação, os apóstolos da Ciência, da Arte, do
Humanismo e da Fé; no entanto, nele encontraram sempre o élan de enobrecimento e
a força superior que os sustentaram nas ingentes batalhas que empreenderam pela
beleza, pela vida, pelo progresso, pelo engrandecimento dos homens.
Jesus exalçou-o à maior culminância, lecionando-o pela vivência e assim
reformulando os ideais e os conceitos éticos até então vigentes, conclamando a
que todos se amassem, mesmo em relação com os inimigos e verdugos, por serem
exatamente esses os mais carecentes da força persuasiva e poderosa do amor.
Com a dinâmica do amor, Ele revitalizou as esperanças humanas e inaugurou um
reino ideal de paz e fraternidade, que lentamente, vem dominando a Terra,
fazendo desde agora antever-se a possibilidade de felizes e prósperos dias para
todas as criaturas do futuro.
O amor, sem dúvida, é hábito divino fecundando a vida, pois que, sem o amor,
a Criação não existiria.
Nos vórtices centrais do Universo o amor tem caráter preponderante como força
de atração, coesão e repulsão que mantém o equilíbrio geral.
Desenvolvimento – Um estudo filosófico do amor apresentando-o sob dois
aspectos a considerar: o que procede das tendências eletivas e o das inclinações
domésticas. No primeiro grupo estão as expressões do ideal ou manifestações
platônicas, o que dimana da razão, o sensual, o fisiológico… E no outro, os da
consangüinidade, tais: o amor familial, o conjugal…
O amor por eleição procede das fontes íntimas do sentimento e se expressa na
oscilação variável dos impulsos imediatos, desde a brutalidade, em que se
exterioriza, animalizado, até às excelentes manifestações do fervor estético e
estésico, em que se sublima, nas culminâncias da santidade.
Desse modo, mesmo quando enlouquecido, enseja experiência de aprimoramento,
transitando do campo das formas para as rutilâncias da renunciação.
Assim, o egoísmo, que se traduz como amor ao próprio eu, é enfermidade de
largo porte, em cujo campo medram problemas e desaires de complexidades
diversas.
A ambição resulta do desconcerto do amor, que desvaira.
A calúnia traduz a loucura do amor.
A renúncia representa a sublimação do amor.
A fraternidade exterioriza o amor que se espraia.
A autodoação manifesta o amor que encontrou Deus e se oferece ao próximo.
Há sempre lugar e oportunidade para o elevado exercício do amor. Inserto no
espírito por herança divina, revela-se a princípio como posse que retém, desejo
que domina, necessidade que se impõe, a fim de agigantar-se, logo depois, em
libertação do ser amado, compreensão ampliada, abnegação feliz, tudo fazendo por
a quem ama, sem imediatismo, nem tormento, nem precipitação. Sabe esperar,
consegue ceder, lobriga entender sempre e sempre desculpar.
O amor é tudo. Resume-se em amar.
O trânsito das exteriorizações em que se expressa é caminho para as suas
próprias culminâncias.
Jesus e Amor – Quantos O precederam na condição de Seus embaixadores,
compreenderam-lhe o impositivo e alguns tentaram vivê-lo. Muitos que vieram
depois, sob
Sua inspiração, conseguiram exemplificá-lo. Foi, porém, Ele quem o atingiu na
mais pura exteriorização, fazendo de todas as suas horas, palavras, pensamentos
e ações, atos de amor.
Grassando a hediondez da brutalidade, a se traduzir pela violência da força e
mediante a vilania da corrupção, Sua vida é uma resposta aos vencedores-vencidos
em si mesmos, mantendo inalterada serenidade, com absoluto desinteresse pelas
ilusões da transitoriedade física, de tal modo característica e real que
reformulou o código vigente e reestruturou o pensamento dos dias porvindouros.
Amou os não amados sem se preocupar com os perseguidores dos fracos, fracos
que também são em si mesmos.
Amou os vencidos sem recear os seus escravizadores, a seu turno escravos de
outros senhores, que podem ser: paixões, posições ou engodos.
E quando instalou o primado do amor na Terra, deixou-se crucificar para
adubar o solo das almas com o seu sacrifício, como a dizer que nele se
encontram o princípio e o fim de tudo e de todas as criaturas.
Estudo e Meditação:
“O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo
é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito.
Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.
(O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 886)
“É de essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes, no
fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. É fato, que já haveis podido
comprovar muitas vezes, este: o homem, por mais abjeto, vil e criminoso, que
seja, vota a um ente ou a um objeto qualquer viva e ardente afeição, à prova de
tudo quanto tendesse a diminuí-la e que alcança, não raro, sublimes proporções.”
(O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. XI, item 9.)
Texto extraído do livro Estudos Espíritas, de Divaldo Pereira Franco pelo
espírito de Joanna de Ângelis.
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