O estudo do Espiritismo é de vital importância para que se possa
penetrar-lhe a essência dos conteúdos científicos, filosóficos e
ético-morais-religiosos.
Toda a sua doutrina se fundamenta na experiência que se deriva da observação
contínua dos fatos, graças à metodologia quantitativo-qualitativa.
Não tendo sido elaboração de um homem ou de um grupo de indivíduos, não sofre
os problemas de sistemas ou de idéias preconcebidas, mantendo incomum
imparcialidade no exame e análise dos elementos que o constituem.
Resultado de demoradas reflexões e pesquisas, apóia-se nas leis naturais, que
são fundamentais à vida de onde se derivam todos os seus postulados.
Os fenômenos que lhe facultaram o surgimento, em todas as épocas e Nações da
Terra, passaram pelo crivo de contínuas experimentações, havendo resistido aos
esquemas convencionais da dúvida, da fraude, das exteriorizações do
inconsciente, antes de adquirirem cidadania e dignidade. Esses fenômenos foram
considerados, no passado, como expressões da santificação, do misticismo, do
ridículo – de acordo com a época em que se manifestaram – para se tornarem parte
integrante da cultura humana, que os proporcionava, portanto, sem qualquer
colorido fantasista ou miraculoso.
Passo a passo, as informações que se originaram nas comunicações foram objeto
de exame e de comparação com o conhecimento intelectual, passando pelo crivo dos
enfrentamentos com os sistemas vigentes e as doutrinas em voga, apresentando-se
como um corpo harmônico de teses com características próprias, dantes não
sonhadas sequer, compondo paradigmas que resistem aos mais intrincados processos
de negação elaborados pelo materialismo, do qual é o mais vigoroso adversário.
Não se compadecendo com pieguismos culturais e atavismos ancestrais, o
Espiritismo assenta-se na razão, que demonstra por meio dos conceitos avançados
em torno do ser humano, da vida e da sua finalidade, tornando-se, por isso
mesmo, um fértil campo de princípios filosóficos que dignificam e libertam as
mentes e os sentimentos humanos.
Firmado nos princípios das Leis naturais, aquelas que regem o Universo, não
pode ser ultrapassado, porque, à medida que surjam novas idéias centradas na
lógica e resistentes aos combates extemporâneos da insensatez, o Espiritismo as
aceitará, e quando essas conquistas do conhecimento demonstrarem que seja
improcedente algum dos seus postulados, este será eliminado ou se amoldará ao
impositivo da circunstância.
Não possuindo qualquer tipo de culto, de cerimonial, de ritualismo, de
sacerdócio organizado ou equivalente, é a religião do ser integral, porque
possui todos os fundamentos das religiões – Deus, imortalidade da alma, justiça
divina, elevação de pensamento através da oração, exercício e vivência do amor –
adentrando-se na demonstração da excelência desses conceitos, em face da sua
feição de ciência experimental. Assim, para culminar esse objetivo demonstra a
imortalidade do ser; mediante a sua comunicabilidade depois do decesso tumular;
a justiça divina, recorrendo à reencarnação, que ora se converte na chave
indispensável à compreensão dos acontecimentos históricos, sociológicos,
humanos, econômicos, morais e espirituais que envolvem os indivíduos; a comunhão
mental com a Fonte Geradora de vida, por meio do intercâmbio entre aquele que
ora e o Fulcro ao qual é direcionada a emissão mental.
Em uma doutrina portadora de constituição elevada e sólida, sem brechas para
o aventureirismo ou para o mercantilismo adivinhatório, somente se equivoca
aquele que prefere manter-se à margem dos seus ensinamentos, que são claros como
a luz que esbate a treva, ou que prefere o engodo à verdade, a fantasia à
realidade, vivendo o período infantil do pensamento, irresponsável, portanto,
ante os desafios existenciais para decifrar-se e avançar com segurança no rumo
do destino traçado que tem à frente.
Não obstante, grassam em abundância, e multiplicam-se férteis, informações
destituídas de veracidade, como aliás do agrado das pessoas acostumadas ao
ludíbrio, às vaidades e exaltações do ego, que somente prejudicam, contribuindo
para o aumento da ignorância e leviandade em torno dos assuntos relevantes da
Humanidade.
Pseudo médiuns ou medianeiros em desequilíbrio, assessorados por Espíritos
levianos que se comprazem em mantê-los no ridículo, amiúde apresentam-se como
reveladores, e o são inconseqüentes, ludibriando a boa-fé dos incautos ou
incensando os orgulhosos com bombásticas informações em torno do seu passado,
com promessas mirabolantes sobre o seu futuro, ou ainda, como emissários de
Embaixadores Celestes para evitarem calamidades, alterarem acontecimentos,
assumindo posturas de semi-deuses, que deslumbram os fascinados e se tornam
condutores dos grupos humanos.
Os Espíritos Nobres não têm qualquer interesse em revelações em torno de
personalidades de ontem ou de hoje, evitando a abordagem em torno do que hajam
sido, trabalhando em favor do presente, do qual se origina o futuro, que é a
grande meta.
Não tem nenhum sentido a busca de informações em torno do passado espiritual,
particularmente se se anela por haver sido rei ou príncipe, nobre ou burguês,
sábio, guerreiro ilustre, papa ou outra qualquer personagem importante, que em
algum momento esteve presente na História.
A Lei é de progresso, portanto, evidente que se é sempre melhor do que aquilo
que se haja sido, não se devendo preocupar com cargos e homenagens do pretérito,
agora mortos, e cuja evocação somente levaria à presunção, à ociosidade dourada
ou à lamentação.
Outrossim, proliferam outras revelações trágicas em torno do fim dos tempos,
das tragédias que irão ocorrer, como se não fossem elas do cotidiano, variando
de expressão e de lugar, todas igualmente parte integrante do processo evolutivo
de um planeta inferior, que avança para outro degrau na escala dos mundos.
O homem encontra-se reencarnado para aproveitar a oportunidade de reparação e
aquisição de valores que lhe faltam na economia intelecto-moral, não para
repetir experiências infelizes com novos fracassos ou para cultuar memórias
extravagantes e fantasiosas, que em nada contribuem para a sua evolução. Cumpre,
portanto, precatar-se todo aquele que se interesse pelo Espiritismo, com
revelações inconseqüentes, estudando a Doutrina e praticando-a com segurança,
lançando o pensamento para a frente e para cima, na certeza de que cada um é o
que de si próprio faz. O fato de haver alguém vivido em área de destaque não
significa ser Espírito feliz, antes comprometido com as graves responsabilidades
que nem sempre soube honrar e que agora defronta para corrigir.
A meta que todos devemos perseguir é aquela que conduz à auto-realização,
utilizando-nos do serviço de dignificação da vida e das criaturas em cujo grupo
nos encontramos, encarnados ou não, porém, unidos no mesmo ideal de edificação
de um mundo melhor para todos, longe do sofrimento, da ilusão, da ignorância,
sempre responsável pelo mal que viceja em nós e nos retém na retaguarda de onde
procedemos.
(Página recebida pelo médium Divaldo P. Franco, na reunião da noite de 14 de
abril de 1996, em Quarteira, Portugal.)
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