O Brasil é dono de um rico folclore, resultado da junção de culturas e tradições de diferentes povos, com destaque para o indígena, africano e europeu.
Desta forma, surgiram diversas histórias mitológicas que envolvem seres e criaturas fantásticas que há séculos assombram e maravilham os brasileiros.
Confira alguns dos personagens mais populares do folclore nacional, assim como as principais características de suas respectivas lendas.
Iara
Também conhecida por Uiara ("senhora das águas", na língua tupi-guarani), esta é a personagem da famosa lenda da Mãe D'Água, uma das mais representativas do folclore brasileiro.
A lenda da Iara conta que esta é uma criatura metade mulher e metade peixe (uma espécie de sereia), que habita os rios da região amazônica.
A Mãe D'Água é descrita como tendo os cabelos negros, compridos e uma voz hipnotizante. De acordo com a lenda, Iara emite um som tão agradável que todos os homens ficam atraídos.
Lenda da Iara
A história tradicionalmente transmitida pelos indígenas diz que Iara era uma bela jovem e todos os seus irmãos sentiam inveja de sua beleza.
Além de extremamente bonita, Iara também era uma guerreira muito corajosa. Assim, a única solução que seus irmãos encontraram para se livrar de tamanha inveja seria matar a jovem.
Mas, Iara consegue matar os seus irmãos primeiro. Consequentemente, Iara foge para não ter que sofrer com a punição do seu pai, o pajé da tribo. Mas este acaba por encontrá-la e como punição, lança a filha ao rio.
Os peixes salvam Iara, transformando-a em sereia. Assim, a índia começa a usar a sua beleza e sedutora voz para atrair os homens ao fundo do rio, matando-os afogados.
Ainda segundo a lenda, o homem que tem a "sorte" de escapar da maldição da Iara, fica louco. Apenas um poderoso pajé teria a capacidade de fazer a pessoa voltar ao seu estado normal.
Originalmente, as primeiras histórias sobre a lenda da Iara narrava a personagem como um homem, chamado de Ipupiara. Este tritão tinha a fama de devorar os pescadores da região. Apenas a partir do século XVIII que, supostamente, a lenda da Iara ganhou a versão que é popular atualmente.
Saci-Pererê
Outra personagem bastante popular do folclore nacional. O Saci-Pererê é descrito como um menino negro que tem apenas uma perna, usa um gorro vermelho e está sempre com um cachimbo na boca.
O Saci é conhecido por ser muito brincalhão. Entre as suas principais travessuras as mais conhecidas são:
- fazer a comida queimar;
- trocar o sal pelo açúcar;
- fazer tranças no rabo dos cavalos;
- assoviar para assustar animais e pessoas;
- esconder objetos domésticos, etc.
Apesar de ser caracterizado por ter esses comportamentos, o Saci-Pererê não costuma ser violento, de acordo com as principais lendas.
O Saci-Pererê é um personagem tão marcante no cenário folclórico brasileiro, que foi criada uma data comemorativa exclusiva para ele: 31 de outubro, o Dia do Saci. Está é tida como uma alternativa ao Halloween, com o propósito de fazer os brasileiros celebrarem a riqueza do folclore nacional.
Lenda do Saci-Pererê
As primeiras histórias sobre essa criatura surgiram nas tribos indígenas do sul do Brasil. Na época, o Saci era retratado como uma espécie de pequeno diabo, com duas pernas, cor mulata e um rabo.
A lenda contemporânea do Saci-Pererê se originou a partir da junção de características de vários lugares. A cor negra e a falta de uma perna é uma influência da cultura africana, pois o Saci teria perdido o seu membro inferior numa luta de capoeira, segundo a história. O gorro vermelho, no entanto, é uma herança das tradições europeias.
A lenda do Saci varia de acordo com a região do país, mas a maioria das narrativas consideram o personagem como o protetor das ervas medicinais e plantas. O Saci teria um profundo conhecimento sobre as propriedades curativas de toda a flora brasileira.
A lenda conta que o Saci pode ser encontrado nos redemoinhos de vento e ser facilmente capturado se a pessoa jogar uma peneira sobre os redemoinhos. Após capturá-lo, deve-se tirar o gorro da criatura, garantindo assim a sua obediência. Para evitar que o Saci fuja, pode prendê-lo dentro de uma garrafa de vidro.
Os Sacis nascem dentro de bambus, onde ficam por sete anos. Depois de adultos, vivem por 77 anos. Quando morrem, essas criaturas endiabradas se transformam em orelhas-de-pau ou em cogumelos venenosos.
Curupira
Assim como o Saci, o Curupira é outra personagem do folclore brasileiro que habita as florestas e é conhecido por fazer muitas travessuras.
O Curupira é descrito como um anão de cabelos ruivos, com muitos pelos pelo corpo e os pés virados para trás. A criatura usa essa última particularidade como uma artimanha para enganar as pessoas, fazendo com que fiquem presas na mata e não encontrem o caminho para casa.
Lenda do Curupira
As primeiras narrativas sobre a lenda do Curupira são do século XVI, quando era descrito pelos jesuítas como o "demônio que persegue os índios".
Ao contrário do Saci, o Curupira é considerado um ser maléfico, capaz de fazer mal às pessoas e, por essa razão, sempre foi muito temido pelos índios.
De acordo com a lenda, o Curupira persegue as pessoas que desrespeitam a floresta, como lenhadores, caçadores, etc. Histórias de raptos misteriosos, estupros e outros casos de violência inexplicáveis que ocorrem nas matas costumavam ser associados ao "demônio da floresta".
Para que a pessoa não seja alvo do Curupira, a lenda diz que esta deve oferecer cachaça de cana de açúcar ou tabaco, pois a criatura supostamente gosta muito de fumar e beber.
Também é aconselhável amarrar um cipó e esconder bem uma das pontas, uma vez que o Curupira também é descrito como dono de uma curiosidade surpreendente. Desta forma, a criatura passaria muito tempo entretida com o cipó e esqueceria de atormentar a pessoa que se aventura pela floresta.
Saiba mais sobre o Curupira.
Caipora
Muitas vezes confundido com o Curupira, a Caipora é outro personagem tradicional do folclore brasileiro. A sua lenda é muito comum na região amazônica, sendo seu nome originário a partir do tupi-guarani caapora, que significa "habitante do mato".
Diferente do seu "primo" Curupira, a Caipora não tem os pés virados para trás, mas também é descrita como uma criatura de pele escura, coberta de pelos vermelhos e que anda sempre montada em um porco-do-mato.
Lenda da Caipora
Assim como vários outros personagens folclóricos da região amazônica, o Caipora também protege as florestas, atacando qualquer pessoa que desrespeite o seu espaço.
A maioria das lendas diz que a Caipora tem poderes especiais relacionados a natureza, como controlar ou ressuscitar animais. Para proteger o seu ecossistema, a criatura faz armadilhas e oferece falsas pistas aos caçadores para que se percam.
A lenda diz que a Caipora costuma agir mais intensamente aos domingos, sextas-feiras e dias santos. Para que a pessoa possa entrar na floresta e não correr o risco de ser pego pela Caipora, a cultura popular ensina que é precisa deixar alguns presentes para a criatura, como fumo de corda, por exemplo.
A Caipora, no entanto, sempre foi descrita nas histórias narradas pelos indígenas como uma entidade muito traiçoeira. Algumas narrativas contam que este ser mitológico é canibal, capturando as suas vítimas que servirão como sua refeição.
Dependendo da região do país existem relatos diferentes sobre a lenda desta entidade. Algumas histórias narram a Caipora como tendo o corpo verde, enquanto outras consideram-na sinônimo de Curupira, ou seja, ambos seriam a mesma criatura.
Mula-Sem-Cabeça
Esta é outra personagem lendária muito popular no folclore brasileiro. A criatura é descrita nas histórias como uma mula de cor marrom ou preta e que solta fogo no lugar da sua cabeça.
A lenda da Mula-sem-cabeça nasce com base nas ideais conservadoras e moralistas da Igreja Católica, quando os relacionamentos sexuais eram proibidos antes do casamento.
Lenda da Mula-sem-Cabeça
A origem desta lenda é desconhecida, mas acredita-se que esteja relacionada com a chegada dos Jesuítas e o catolicismo no país.
De acordo com a história, toda a mulher que se apaixonava por um padre se transformava em mula-sem-cabeça. Isso porque, antigamente, os sacerdotes eram vistos como "santos" e não como homens. Assim, se apaixonar por um membro do clero era tido como um grande pecado.
As histórias populares dizem que a mulher enfeitiçada costuma se transformar em mula-sem-cabeça às quintas-feiras. Passa a noite toda relinchando em desespero e correndo pelas matas, matando tudo o que encontra pelo seu caminho.
A lenda ainda diz que um dos meios de desfazer a maldição seria alguém arrancar o freio de ferro que o animal carregava consigo nas patas. Outra alternativa para acabar com o encantamento seria furar a criatura com algum objeto pontiagudo para lhe tirar um pouco do "sangue pecador".
Saiba mais sobre a Mula-sem-Cabeça.
Boitatá
É descrito como uma gigantesca cobra de fogo, na maioria das narrativas folclóricas do Brasil. O nome Boitatá é de origem tupi-guarani (mbói = cobra | tatá = fogo).
O Boitatá vive nas matas e protege a floresta contra o degradamento provocado pelo ser humano, principalmente as queimadas. De acordo com a lenda, a pessoa que olha diretamente para um Boitatá fica cega, louca ou morre.
Lenda do Boitatá
De origem indígena, existem diversas variações da lenda do Boitatá. O primeiro relato escrito da história data do século XVI, feito pelo Padre José de Anchieta, onde descreve uma criatura em forma de serpente e feita de fogo. Mas, em outras regiões do país, o Boitatá também é descrito como um touro que cospe fogo pela boca.
Entre algumas das principais características do Boitatá está a capacidade de se transformar num tronco em brasa, queimando quem estiver por perto. Esta artimanha seria usada pela criatura para se vingar dos incendiários de florestas.
Na região nordeste, o Boitatá também é conhecido como "Alma dos Compadres e das Comadres". Mas, neste caso, o ser místico representaria os espíritos de pessoas malignas.
Muitas pessoas consideram a origem da lenda do Boitatá uma tentativa primitiva de explicar o fogo-fátuo, uma reação química provocada quando alguns compostos liberados dos corpos em decomposição entram em contato com o oxigênio presente no ar.
Boto
A lenda do Boto cor-de-rosa é outra das mais disseminadas na cultura popular nacional. As histórias contam que durante as festividades do mês de junho, este "golfinho dos rios amazônicos" se transforma em um belo homem e seduz as jovens das cidades ribeirinhas.
Lenda do Boto
A narrativa mais conhecida sobre a lenda do boto diz que este é um ser muito inteligente. Durante as noites de lua cheia, principalmente durante a quadra junina, o boto se transforma em um rapaz muito bonito e sedutor.
Vestido todo de branco e com um grande chapéu na cabeça, o boto escolhe a virgem mais bonita da festa para ser sua companheira daquela noite. A criatura leva a moça para o fundo do rio, onde a engravida.
A lenda ainda diz que o boto não consegue fazer a metamorfose completa de animal para homem e, por isso, usa um chapéu. A criatura usa esse adereço para esconder um buraco que tem no meio da cabeça, o que seriam as narinas do boto.
Esta lenda é muito comum nas comunidades ribeirinhas da região amazônica para tentar justificar uma gravidez acidental, ou seja, que aconteceu fora de um relacionamento estável.
Por isso, se diz que quando a mulher não conhece a identidade do pai da criança, este é "filho do boto".
Saiba mais sobre o significado das Lendas.
Cuca
Este é outro ser mitológico muito conhecido do folclore brasileiro. A Cuca é descrita como uma assustadora bruxa, com garras afiadas e, em algumas versões, tem a cabeça de um jacaré.
A popularidade deste personagem folclórico aumentou quando foi retratada por Monteiro Lobato no clássico infanto-juvenil Sítio do Picapau Amarelo.
Lenda da Cuca
De acordo com a lenda, a Cuca gosta de sequestrar e comer as crianças que desobedecem os seus pais. Por isso, é comum na cultura popular brasileira contar histórias sobre a Cuca para "forçar" as crianças a se comportarem.
Um dos exemplos mais conhecidos é a tradicional canção de ninar:
“Nana neném que a Cuca vem pegar, papai foi pra roça, mamãe foi trabalhar."
A origem da lenda está baseada em um ser mitológico conhecido entre os povos da Península Ibérica (Portugal e Espanha): a Coca. Esse monstro era descrito como um dragão que comia crianças desobedientes. A história ainda dizia que a criatura ficava constantemente no telhado das casas, espreitando as ações dos jovens mal-educados.
Boiuna
Também conhecido por Cobra-Grande ou Mãe-do-Rio, o Boiuna é uma criatura popular nas histórias folclóricas da região amazônica.
Lenda do Boiuna
O Boiuna é descrito como uma serpente de cor escura e pele brilhante. Este animal é tão grande que é capaz de afundar embarcações, de acordo com os contos populares. As lendas também dizem que este ser tem o poder de provocar ilusões e de se transformar em uma mulher.
Quando o Boiuna fica velho ele vai procurar por alimento na terra. Como não consegue caçar em um ambiente que não está acostumado, as histórias contam que o Boiuna recebe a ajuda de uma centopeia que tem incríveis 5 metros de comprimento.
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