Garimpando as obras de Leopoldo Pereira
Ao iniciar meus estudos na Faculdade de Letras de Diamantina, em 1973,
juntamente com várias amigas, agora colegas nesta Academia, tive o privilégio de
conhecer o famoso professor Aires da Mata Machado Filho, então diretor daquela
faculdade, que me confessou a grande admiração pelo trabalho de Leopoldo da Silva
Pereira, meu tio-avô pelo lado materno. A partir desse encontro, decidi pesquisar mais
sobre esse grande professor mineiro e tentar reunir o maior número possível de suas obras
publicadas. Após mais de vinte anos de intensa procura, encontrei um volume de Versos,
seu único livro de poesia, em um sebo em Belo Horizonte. Pouco tempo depois, Dr. Caio
Mário da Silva Pereira, um de seus doze filhos, enviou-me três exemplares das traduções
de algumas obras da literatura latina feitas por seu pai: Eneida, de P. Virgílio Maro;
Poetas e prosadores latinos, excertos de vários autores clássicos, e Anais, de Caio
Cornélio Tácito. Além dessas traduções, ele traduziu do francês São Paulo nos tempos
coloniais, que trata das viagens de Saint-Hilaire por aquele estado (Editora Monteiro
Lobato, 1922); do catalão, Estampas Catecheticas, do Padre Antonio Claret (Madrid:
Editorial do Coração de Maria, 1920), e, apesar de meus esforços, ainda não consegui
localizar a tradução do italiano do imortal Francesca de Rimini, de Sílvio Pellico.
Leopoldo Pereira ainda escreveu dois romances: Amor de infância (1907) e
Destino perseguidor (Belo Horizonte, Beltrão & Cia, 1914). Este último romance foi
publicado também sob a forma de folhetim no jornal Voz de Diamantina, no ano de 1965.
Sua obra Sintaxe da língua portuguesa, publicada pela primeira vez no Rio de
Janeiro, em 1898, e reeditada pela Imprensa Oficial do Estado de Minas, em 1923, foi
aprovada pelo Conselho Superior de Instrução Pública do Estado de Minas Gerais e
adotada em várias escolas do estado. Ele também escreveu um ensaio históricogeográfico, intitulado O município de Araçuaí, no qual são relatados alguns costumes da
região, fruto de observações rigorosas, realizadas ao longo de quinze anos de anotações
pessoais.
A relação de suas obras revela, pois, múltiplas facetas de uma atividade intelectual
bem diversificada, comprovando-se como determinados valores culturais e literários de
uma tradição local, sob a ótica desse tradutor do sertão mineiro, são fortes o suficiente
para dialogar com o universal e o global.
Ângela Maria Salgueiro Marques
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