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FOLCLORE

A palavra folclore está associada ao conjunto de expressões e costumes que representam a identidade cultural de uma comunidade.

A festa tradicional do bumba meu boi é parte da construção folclórica de nosso país


palavra folclore tem raízes nas antigas línguas saxônicas. Sendo inicialmente grafada por seu criador, William John Thom, em 1846, como Folklore, o termo foi construído a partir de duas outras palavras: folk – povo e lore conhecimento. Referir-se ao folclore é referir-se, portanto, à sabedoria popular.
Assim como foi pertinente aos estudiosos que se dedicaram a esse campo de conhecimento, é interessante nos perguntarmos: o que seria a sabedoria popular que se constitui como folclore? Foi a partir dessa pergunta e de várias outras que os estudos folclóricos desenvolveram-se ao redor do mundo.
Em nosso país, a Carta do Folclore Brasileiro, adotada no I Congresso Brasileiro de Folclore, realizado em 1951, estabelecia as definições que seriam adotadas nos estudos folclóricos. O texto, entretanto, foi mais tarde reeditado diante dos avanços da área, que agora passava a enxergar uma série de imprecisões e ambiguidades no conteúdo original desse documento. Em 1995, durante o VIII Congresso Brasileiro de Folclore, uma nova Carta do Folclore Brasileiro foi apresentada. Ela estabeleceu:
  1. Folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade. Ressaltamos que entendemos folclore e cultura popular como equivalentes, em sintonia com o que preconiza a UNESCO. A expressão cultura popular manter-se-á no singular, embora entendendo-se que existem tantas culturas quantos sejam os grupos que as produzem em contextos naturais e econômicos específicos;
  2. Os estudos de folclore, como integrantes das Ciências Humanas e Sociais, devem ser realizados de acordo com metodologias próprias dessas Ciências;
  3. Sendo parte integrante da cultura nacional, as manifestações do folclore são equiparadas às demais formas de expressão cultural, bem como seus estudos aos demais ramos das Humanidades. Consequentemente, deve ter o mesmo acesso, de pleno direito, aos incentivos públicos e privados concedidos à cultura em geral e às atividades científicas.
Os trabalhos que se desenvolvem na área buscam compreender traços específicos da construção social do sujeito em sua comunidade e em sua experiência diária com o outro. Para todos nós, a tradição é ainda, de alguma forma, fonte de aprendizagem, de forma que o contato com o passado por meio do convívio com gerações diferentes é, por muitas vezes, fonte de conhecimento. A transmissão de costumes, em que a aprendizagem constrói-se sobre o passado e sobre a herança cultural do sujeito, é parte do que caracteriza a construção folclórica. Esta está tão próxima de nossa construção identitária que alguns estudiosos acreditam que folclore e cultura são exatamente a mesma coisa.
Alguns exemplos de manifestações folclóricas são as festas tradicionais, como a Folia de Reis, a Festa do Divino Pai Eterno, as comemorações do Bumba meu boi e as Cavalhadas. Todas elas carregam um significado importante para aqueles que participam dessas tradições. Da mesma forma, algumas figuras folclóricas que sobrevivem nas lendas que são passadas de geração a geração, como a lenda da Pisadeira, são narrativas que servem como explicação para fenômenos vividos pelos indivíduos, mas que não são plenamente compreendidos. No caso da Pisadeira, mulher magra, alta e de aparência assustadora que pisa no peito de pessoas que vão dormir de barriga cheia, seria uma explicação para o fenômeno da paralisia do sono.
Das lendas sobre heróis que levam consigo lições morais, como a do Curupira, que seria o guardião das matas e dos animais contra as malfeitorias dos caçadores e madeireiros, às festas religiosas que carregam símbolos e significados sagrados que sustentam a crença de um povo, o folclore é a representação da experiência coletiva em um contexto bastante particular. Ele se baseia na convivência diária, na interpretação de fenômenos, na manutenção de costumes ligados ao trabalho, na crença religiosa, na constituição moral etc. O linguista e folclorista Francis Lee Utley resume:
“Sempre que se cante a uma criança uma cantiga de ninar; sempre que se use uma canção, uma adivinha, uma parlenda, uma rima de contar, no quarto das crianças ou na escola; sempre que ditos, provérbios, fábulas, estórias bobas e contos populares sejam reapresentados (…) sempre que uma mãe ensina a filha a costurar, tricotar, fiar, tecer, bordar, fazer uma coberta, trançar um cinto, assar uma torta à moda antiga; sempre que um profissional da aldeia (...) adestre seu aprendiz no uso de instrumentos e lhe mostre como fazer um encaixe e um tarugo para uma junta, como levantar uma casa ou celeiro de madeira, como encordoar um sapato-raqueta de andar na neve (...) aí veremos o folclore em seu próprio domínio, sempre em ação, vivo e mutável, sempre pronto a agarrar e assimilar novos elementos em seu caminho.”
(Carlos Rodrigues Brandão, apud Francis Lee Utley)
Referência:
COMISSÃO NACIONAL DE FOLCLORE. Carta do Folclore Brasileiro. Salvador, 1995.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o folclore. São Paulo: Brasiliense, 1982 (Coleção Primeiros Passos.

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