Na antiguidade, jamais existiu a ideia ou mera concepção da palavra pecado, mas após a ascensão do cristianismo, o prazer carnal foi praticamente criminalizado.
Giulio Romano
Muito antes de se estabelecer os severos regramentos da vontade de Deus, os líderes religiosos dos primórdios do cristianismo sentiram tamanha repulsa pela flagrante sensualidade da vida romana, que passaram a condenar todos os prazeres do corpo como inerentemente pecaminosos.
Até então, jamais existiu a ideia ou mera concepção do pecado, e após a ascensão do cristianismo, o prazer carnal foi praticamente criminalizado.
Mas em diversas culturas da antiguidade, a sexualidade convivia muito bem com a religiosidade, aliás, o sexo, em sua forma ritualizada, não estava ligado ao casamento nem ao âmbito privado e objetivava alcançar o favor desse ou daquele deus que traria mudanças positivas para a comunidade.
A partir de recentes descobertas arqueológicas, como esqueletos de amazonas, ídolos com formas sensualizadas, restos de ervas afrodisíacas, resquícios de arte erótica pré-histórica, é possível se traçar as origens de antigas práticas ritualísticas ao longo de quatro milhões de anos, onde, em todas as sociedades humanas, o sexo ocupou lugar de grande destaque.
As civilizações da antiguidade possuíam um comportamento mais permissivo em relação à prática sexual. De fato, o mundo antigo – em especial os povos helênicos – tinha uma visão muito mais despojada do que nós quanto a muitas práticas sexuais. Nudez pública, as orgias abertas, sexo ritualístico com prostitutas religiosas, relações sexuais entre indivíduos não casados e pederastia – esta última, comum na Grécia antiga, quando um homem maduro fazia de um menino seu aprendiz.
No antigo Egito, três mil anos antes de Cristo, a sexualidade era vista como algo muito natural. O clima quente obrigava as pessoas a andarem com pouca roupa ou nuas e havia orgias religiosas relacionadas a ritos de fertilidade e colheita que ocorriam diariamente.
Ora, anteriormente, o sexo não era ligado ao casamento e nem ao âmbito privado. Muito antes, no Paleolítico e no começo do Neolítico, desconhecia-se, por assim dizer, o vínculo entre sexo e procriação e os homens sequer imaginavam que tivessem alguma participação no nascimento de uma criança.
Fertilidade era exclusividade feminina, estando a mulher em papel de destaque nessas sociedades, pois seu corpo era associado à vida e a morte; sangrava em certas fases da Lua e produzia leite e gente em outras. O corpo da mulher era um receptáculo mágico, cuja força sobrenatural, incluía o poder mágico de fazer com que o órgão sexual masculino se erguesse, proporcionando prazer – tanto para experimentar quanto para oferecer. Assim, não é de admirar que o poder sexual da mulher infundisse tamanho respeito em nossos ancestrais.
M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.
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