O Evangelho Segundo o Espiritismo é o terceiro livro publicado pelo Professor. Hyppolite Léon Denizard Rivail, sob o pseudônimo “Allan Kardec”. Os dois primeiros foram O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857 e O Livro dos Médiuns, em 15 de janeiro de 1861.
Como se sabe, as matérias contidas em O Livro dos Espíritos são divididas em quatro partes: a parte primeira intitula-se “Das causas primárias”; a parte segunda, “Do mundo Espírita ou mundo dos Espíritos”; a terceira, “Das leis morais” e a quarta parte, “Das esperanças e consolações”. Cada uma destas partes foi, posteriormente, ampliada e tomada como base para os livros que se seguiram, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, A Gênese.
IMITAÇÃO DO EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO (1a edição)
Quanto ao O Evangelho Segundo o Espiritismo, de acordo com a Revista Espírita em seu número de março de 1864, esta obra estava no prelo desde dezembro de 1863 e deveria ser divulgada em fevereiro de 1864; entretanto, “atrasos involuntários na impressão e os cuidados que esta exige, não o permitiram”.
Em abril de 1864, a Revista Espírita anunciou que o livro já estava à venda sob o título Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO (3a edição)
Em novembro de 1865, a Revista Espírita informa em suas “Notícias Bibliográficas” que estava no prelo, para aparecer em alguns dias, o livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, em sua 3ª edição, “revista, corrigida e modificada” e em abril de 1866 aparece, finalmente, o nosso O Evangelho Segundo o Espiritismo, que se tornou a edição definitiva.
As principais alterações, explica Kardec, foram, além do título, que por reiteradas observações do editor Sr. Didier, e de outras pessoas, foi mudado de Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo para: O Evangelho Segundo o Espiritismo e alterações ainda “numa classificação mais metódica, mais clara e mais cômoda das matérias, o que torna sua leitura e as buscas mais fáceis”.
Entre estas alterações, Kardec amplia de quatro para cinco sua classificação das matérias contidas nos Evangelhos do Novo Testamento, incluindo na Introdução desta 3a edição: “As palavras que foram tomadas pela Igreja para o estabelecimento de seus dogmas”.
Assim, segundo esta 3a edição, os assuntos contidos nos Evangelhos do Novo Testamento podem ser classificados da seguinte forma:
1 - Os atos comuns da vida do Cristo; 2 - Os milagres; 3 - As predições; 4 - As palavras que foram tomadas pela Igreja para o estabelecimento de seus dogmas; 5 - O ensino moral.
Nas palavras de Kardec, “As quatro primeiras partes têm sido objeto de controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável”.
Kardec afirma, ainda, que respeitou “escrupulosamente a tradução original de Sacy, assim como a divisão em versículos”.
A FEB – Federação Espírita Brasileira – publicou em 1944 a tradução para o português dessa 3ª edição francesa. Encarregou-se dela Guillon Ribeiro. Esta 3ª edição francesa d’O Evangelho Segundo o Espiritismo, considerada a edição definitiva da obra, serve de base para todas as traduções para o português.
Se O Evangelho Segundo o Espiritismo tornou-se uma leitura fundamental e obrigatória a todos aqueles que buscam estudar e entender os ensinos de Jesus, o mesmo não se verifica àqueles que, movidos pela curiosidade ou pela busca do conhecimento, procuram informações sobre o que vem ser a Bíblia de Sacy, em que se baseou Kardec para selecionar os versículos que aparecem n’O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Louis-Isaac Lemaître de Sacy
“Sacy” é o sobrenome de Louis-Isaac Lemaître de Sacy.
Louis-Isaac Lemaître de Sacy nasceu em Paris a 29 de março de 1613 e faleceu na localidade Château de Pomponne, perto de Lagny, a 04 de janeiro de 1684. Era um dos cinco filhos do cristão huguenote Isaac Le Maistre e de Catherine Arnauld, uma das irmãs de Angélique Arnauld.
O termo huguenote era aplicado aos protestantes franceses durante as guerras religiosas ocorridas na França na segunda metade do século XVI.
Angélique Arnauld era irmã de Antoine Arnauld (conhecido como “O Grande Arnauld” – filósofo) e a terceira filha dos vinte filhos de Antoine Arnauld (pai). O nome completo de Angelique Arnauld era Jacqueline Marie Angélique Arnauld (08/09/1591 - 06/08/1661), religiosa francesa conhecida como Mère Angélique Arnauld. Foi abadesa e reformadora de Port-Royal, e figura respeitada do jansenismo.
A BÍBLIA DE SACY OU BÍBLIA DE PORT ROYAL
A história da Bíblia de Port-Royal ou Bíblia de Sacy é interessante. De 1657 a 1660, muitos dos “Solitários” de Port-Royal consideraram a possibilidade de uma tradução do Novo Testamento. Um deles, Antoine Lemaîstre, irmão de Louis-Isaac, iniciou a tarefa em 1657 e, após a morte de Antoine, em 1658, Louis-Isaac deu continuidade à obra.
Desde 1654, a Igreja Católica movia uma grande perseguição aos jansenistas de Port-Royal e Louis Isaac foi aprisionado na Bastilha de 13 de maio de 1666 a 14 de novembro de 1668. Ele aproveitou este período para completar a tradução iniciada por seu irmão Antoine a partir da Vulgata Latina, tornando-se, assim, o artífice da tradução para o francês da Bíblia, dita Bíblia de Port-Royal ou Bíblia de Sacy.
Após sua libertação, Louis Isaac se dedicou à revisão de sua tradução e à redação dos Comentários que acompanharam cada um dos livros da Bíblia. A tradução de Lemaître de Sacy foi muito mais conhecida do que as que a precederam e também a mais publicada. Pode ser considerada a primeira tradução da Bíblia acessível ao grande público francês que não conhecia o Latim.
De 1672 até 1684, ano de sua morte, Louis Isaac Lemaître de Sacy publicou 10 livros suplementares com comentários sobre diversas passagens da Bíblia, utilizando manuscritos, à época, recém descobertos. Com este material, seu amigo Pierre Thomas du Fossé (1634-1698) deu continuidade à obra e empreendeu sua publicação entre os anos 1685 e 1693. Em 1696 foi finalmente impressa em 32 volumes A Santa Bíblia, contendo o Antigo e o Novo Testamento.
Fica aqui registrada nossa homenagem a este homem notável, teólogo, biblicista, humanista que dedicou sua vida à difusão das Escrituras Sagradas nas quais Kardec se baseou para nos legar O Evangelho Segundo o Espiritismo, obra máxima da Doutrina Espírita que materializou a promessa do Mestre Jesus de que enviaria um Consolador que haveria de nos explicar integralmente seus ensinamentos.
REFERÊNCIAS: Este artigo foi baseado no livro Respingos Históricos das Escrituras Sagradas – O longo caminho até o Evangelho Segundo o Espiritismo – Machado, Dirceu, 1ª ed., JS Editora, 208p. 2008.
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